PRIMEIROS TEMPOS

No Brasil, a institucionalização da profissão do designer começa a se dar em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre as décadas de 1950 e 1960. Os dois principais centros culturais, políticos e econômicos do país na época, ensaiaram os primeiros movimentos para a formação de um profissional criativo e capacitado a desenvolver produtos industriais e mensagens visuais passíveis de serem transmitidas em série. As duas cidades desenharam um percurso parecido, no que diz respeito a absorção de influências do design internacional, mas adaptaram-se a realidades internas um pouco diferentes.

Duas mulheres progressistas e dois museus estruturados em torno de um projeto de atuação didática foram personagens importantes do início dessas histórias. Em São Paulo, a arquiteta italiana Lina Bo Bardi (em parceria com seu marido – o crítico e marchand – Pietro Maria Bardi) e, no Rio, a jornalista baiana Niomar Muniz Sodré Bittencourt. Em São Paulo, o MASP – Museu de Arte de São Paulo; no Rio, o MAM – Museu de Arte Moderna. Lina participou da criação da primeira iniciativa de ensino voltada aos princípios do design moderno – o Instituto de Arte Contemporânea (IAC) –, que aconteceu no MASP entre 1951 e 1953; editou a revista Habitat que divulgava projetos de arquitetura e design com estética moderna e viés funcionalista; foi autora de importantes obras arquitetônicas do país (como a sede do próprio MASP) e dos primeiros móveis modernos brasileiros; além do arrojado sistema expositivo, também do MASP. Niomar foi jornalista e intelectual de circulação internacional, muito atuante no combate à ditadura militar, principalmente quando esteve à frente do jornal Correio da Manhã. Foi diretora do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (então da Guanabara), dando-lhe cunho educativo e abrindo-o para o design.

O MAM foi criado em 1948 e, em 1952, instalado provisoriamente no icônico prédio modernista do Palácio da Cultura. A transferência para a sua sede própria, no Aterro do Flamengo, com projeto do arquiteto Affonso Eduardo Reidy, se deu em 1958, com a inauguração apenas do Bloco Escola que, nos planos de Niomar, abrigaria a primeira escola de design do Rio, que não aconteceu. O prédio principal, de exposições, foi inaugurado em 1963. A ideia de uma escola de design no MAM surgiu em 1956, quando Niomar Muniz Sodré encontra-se, na Europa, com Max Bill – primeiro diretor da Escola Superior da Forma de Ulm, e este lhe propõe criar um curso de design no museu. Bill já tinha algum contato com o Brasil desde a sua participação premiada, com muita repercussão no meio artístico brasileiro, na I Bienal de Artes de São Paulo, em 1951; depois quando, em 1953, proferiu palestras no Rio e em São Paulo; e ainda também pelo fato de, nestas alturas, alguns brasileiros já terem passado pela escola de Ulm (tanto no curso de design, como no de arquitetura).

No mesmo ano de 1956, Niomar encontra-se também, mas desta vez no Brasil, com outro professor de Ulm – Tomás Maldonado – que naquele momento já substituíra Bill na direção da escola alemã, imprimindo-lhe um viés mais tecnológico. Neste encontro, Niomar solicita a Maldonado um planejamento para uma “escola de projetos” para o MAM. Embora a proposta daquela que se chamaria Escola Técnica de Criação não tenha se concretizado no espaço do museu, serviria de base para a constituição da Escola Superior de Desenho Industrial – ESDI.

Mesmo sem uma escola de design, o MAM do Rio abrigou uma série de palestras, cursos e encontros com personalidades do design, além de exposições internacionais sobre o tema. Cita-se pelo menos dois cursos relevantes acontecidos naquele museu antes da fundação da ESDI: em 1959, um curso de comunicação visual ministrado por Otl Aicher (designer alemão idealizador da Escola de Ulm) e Tomás Maldonado (diretor da mesma escola), que teve entre seus alunos Gustavo Goebel Weyne; e, em 1962, um sobre tipografia, tendo Aloísio Magalhães e Alexandre Wollner como professores. Em 1968, o MAM sedia uma Bienal Internacional de Design (iniciativa do Ministério das Relações Internacionais, com participações da ESDI, da FAUUSP e da Fiesp entre outras entidades) e, a partir do evento, pensou-se em criar uma divisão de design dentro do museu. Assim nasceu o Instituto de Desenho Industrial – IDI que funcionou como um laboratório aplicado de design, bem como um promotor da atividade, tendo sido coordenado por Karl Heinz Bergmiller e Goebel Weyne (então professores da ESDI) e, posteriormente também por Pedro Luiz Pereira de Souza e Silvia Steimberg (então ex-alunos e futuros professores da mesma escola).

A ESDI foi oficialmente criada em dezembro 1962, por decreto do governador do extinto Estado da Guanabara, Carlos Lacerda. Começou suas atividades no segundo semestre 1963, sendo então reconhecida como a primeira escola de ensino superior de design na América Latina. Instalada desde então numa simpática vila junto à Lapa, Centro do Rio, daquele portão saiu a primeira geração de designers cariocas responsável por imprimir uma cultura e um vocabulário específico junto a um mercado que começava se formar. De lá também saíram gerações de professores que atuaram na própria Escola e se espalharam pelos diversos outros cursos de design que abririam no Rio e no país.

Sobre brasileiros na Escola de Ulm, ver NOBRE, 2008, nas referências bibliográficas.

Sobre Gustavo Goebel Weyne, ver Depoimentos (de Glaucio Campelo e Rodolfo Capeto e outros).

Sobre Sobre Aloísio Magalhães ver Depoimentos (De Joaquim Redig e outros).

Sobre Aloísio Magalhães e Alexandre Wollner, ver Biblioteca.

Sobre Karl Heinz Bergmiller, ver Depoimentos (do próprio, de Bitiz Afflalo e Silvia Steimberg, e outros).

Sobre Pedro Luiz Pereira de Souza e Silvia Steimberg, ver Depoimentos (dos próprios e outros).

Sobre a ESDI, ver Biblioteca e http://www.esdi.uerj.br/